Asilo Padre Cacique acolhe moradora centenária que encanta com história de vida e talento para costura

O Asilo Padre Cacique, localizado na capital gaúcha, acolhe com carinho a moradora Marlene Garcia Barreto, que, aos 100 anos, possui uma trajetória de vida admirável. Natural de Encruzilhada do Sul e com uma carreira destacada como costureira e escritora, Marlene cativa todos ao seu redor com sua vitalidade e dedicação às atividades diárias.
Após viver por muitos anos no Rio de Janeiro, onde trabalhou como costureira para atrizes e personalidades famosas, Marlene retornou ao Rio Grande do Sul para morar com sua sobrinha. No entanto, após o falecimento dela, encontrou no Asilo Padre Cacique um novo lar. No local, ela continua a exercer sua paixão pela costura, confeccionando seus próprios pijamas, vestidos e até chapéus. Além disso, é uma escritora dedicada, mantendo um diário pessoal e criando poesias e contos.
Mesmo com 100 anos, Marlene segue com excelente saúde física e mental. Ela caminha e se locomove com facilidade e adora compartilhar suas memórias e histórias de vida com os outros moradores do asilo. Sua capacidade de adaptação e o carinho com que é recebida refletem o ambiente acolhedor e respeitoso que o Asilo Padre Cacique oferece a seus residentes.
Entrevista com Marlene Garcia Barreto
Como é sua rotina no Asilo Padre Cacique?
Marlene: Olha, eu gosto muito de escrever. Tenho essa prática de escrever porque, em grupos, sempre existem divergências, né? E acredito que precisamos ter tolerância e paciência para lidar com essas diferenças. Cada um tem suas preferências – um gosta de verde, outro de vermelho. Não é necessário que todos gostem das mesmas coisas. Para mim, escrever é uma forma de buscar paz e compreensão, algo essencial para viver bem em grupo.
Você mantém um diário, então. O que te levou a começar a escrever esse diário?
Marlene: Sim, tenho um diário bem antigo. Recentemente, relendo-o, encontrei coisas que nem lembrava mais. Gosto de registrar as memórias do passado. Acho importante manter essas recordações vivas.
Além de escrever, o que mais você faz aqui no asilo?
Marlene: Me falaram muito bem do Padre Cacique antes de eu chegar, mas a experiência superou todas as expectativas. O ambiente é excelente e todos me tratam com muito carinho. Embora eu não tenha mais minha máquina de costura, que costumava ser minha paixão como costureira de alta costura, continuo com as mãos ocupadas. Gosto de fazer pequenos trabalhos manuais, como bordado, crochê e tricô, embora no momento não esteja fazendo isso. Mas, acima de tudo, continuo escrevendo o que me vem à mente.
Todo mundo quer viver muitos anos. O que você diria para quem deseja chegar aos 100 anos ou mais?
Marlene: Sinceramente, eu acho que o segredo está em se envolver em atividades que realmente valem a pena. Aqui, por exemplo, temos mais de 100 pessoas, cada uma com sua história, e isso só me ensina que viver em harmonia, respeitando as diferenças, é fundamental para se ter uma vida longa e saudável.
A senhora nasceu no interior, em Cruzilhada do Sul, e depois veio para Porto Alegre. Pode nos contar um pouco mais sobre sua trajetória?
Marlene: Isso, nasci em Cruzilhada do Sul. Meu pai não era casado com minha mãe, e, na época, ele era solteiro quando eu nasci. Depois que ele casou, tive sete irmãos. Fui criada pela minha tia, que foi até a casa da minha mãe e perguntou se ela me daria para ela criar, pois a minha mãe estava em uma situação difícil. Ela pensou bastante sobre isso e, querendo evitar que eu passasse pelas dificuldades que ela mesma enfrentou, decidiu me entregar. Então, cresci com minha tia.
E como foi sua chegada a Porto Alegre?
Marlene: Quando eu tinha uns 16 anos, houve uma grande desavença com minha tia. Ela era uma pessoa muito geniosa e nós brigávamos bastante. Foi nesse momento que decidi sair de casa e vim para Porto Alegre, para morar com parentes distantes, embora eu não me lembre exatamente quem eram. Eles me acolheram bem, e, nessa época, já tinha interesse por costura. Fiz um curso de corte e costura e comecei a trabalhar com isso, costurando nas casas das pessoas. Cheguei até a passar um tempo em Niterói, no Rio de Janeiro, onde fiquei cerca de 50 dias fazendo roupas para uma noiva. Foi uma experiência muito marcante na minha vida.
A senhora morou no Rio por 15 anos, depois veio para cá. Como foi essa mudança?
Marlene: Isso, morei no Rio por 15 anos. Depois, minha sobrinha foi para Guarani das Missões, e, como ela estava lá, minha irmã decidiu deixar a casa para acompanhar a filha. Eu também estava querendo mudar de vida, então, vim morar com minha sobrinha aqui. Fiquei com ela até recentemente, quando ela faleceu em outubro. Depois disso, as coisas ficaram um pouco difíceis. Um sobrinho-neto meu está morando lá agora. Ela, antes de partir, sentiu que era o momento e fez o testamento, deixando tudo organizado.
E como está sendo sua adaptação aqui?
Marlene: Me adaptei bem, mas é claro, existe um certo ciúme por conta dos meus 100 anos (risos). Eu trato todos com muito carinho e fico incomodada quando começam com fofocas. Já avisei para não me colocarem nesse tipo de conversa. Não gosto disso. Prefiro manter o ambiente tranquilo, sem conflitos.
Redação: Marcelo Matusiak